segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA: um processo de emancipação.
Escrito por Sonia B. Hoffmann
Porto Alegre, 27 de agosto de 2010.
Hoje em dia, ainda é bastante frequente ouvirmos que a pessoa comdeficiência visual, pelo fato de não enxergar ou ter sua visão reduzida,está impedida para a realização de atividades básicas e tarefas depequena ou média complexidade presentes no cotidiano de todos nós. Este conceito generaliza-se e toma proporções mais acentuadas de acordo com aidade, o gênero, o grau visual e a existência ou não de outroscomprometimentos associados.
Consideradas não apenas limitadas, mas especialmente impedidas, aspessoas cegas ou com baixa visão passam a ser alijadas de vivências eexperiências diárias. Com esta atitude, o outro social desconsidera suaspossibilidades e capacidades funcionais e legitima para a pessoa comdeficiência visual a estruturação de uma passividade perigosa para o desenvolvimento de sua personalidade de forma sadia e independente, poisesta pode tornar-se refém da vontade e do julgamento dos seus pretensos"cuidadores".Ancorada na fantasia e no mito da incapacidade, tecidos culturalmente pelo desconhecimento e pela falta de bom senso, dois fenômenos se estabelecem: a escravização, mútua ou não, das pessoas que enxergam para o cumprimento dos anseios, desejos e necessidades de quem não enxerga; a vinculação da deficiência visual a outros comprometimentos ou distúrbiosimaginários que somente existem porque persistem o comodismo e acarência de estímulos, incentivos e informações para a aprendizagem da autonomia e da independência.
Neste artigo, a intenção é justamente trazer ao conhecimento e àreflexão um processo de emancipação chamado Atividades de Vida Diária,apresentando-se razões para a sua adoção e seu uso pelos protagonistasdesta aventura e desafio de viver a vida de um modo diferente. ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA - que processo é este?
Este processo diz respeito a uma série de conteúdos, técnicas emetodologias que proporcionam, em um determinado tempo, o desenvolvimento e o refinamento de habilidades intelectuais, emocionais,manipulativas e sensoperceptivas necessárias para a solução de problemas e de situações práticas e rotineiras enfrentadas inevitavelmente pelas pessoas durante a vida.
As Atividades de Vida Diária (AVDs) abrangem :
- a mobilidade funcional (deslocamentos significativos em ambientesrestritos e amplos, uso de escadas e elevadores, organização de mapasmentais, localização no espaço, ...);
- os cuidados pessoais (higiene, vestuário, medicação, hábitos comportamentais, ...);
- a comunicação funcional (leitura, escrita, compreensão de textos econversas, solicitações, ...);
- a expressão sexual (conhecimento e manifestação dos sentimentos,informação e administração das manifestações da sexualidade e da sensualidade,comportamentos e atitudes de prevenção, ...);
- a administração doméstica (preparo de alimentos, organização e limpezada casa, abastecimento, segurança doméstica, reparos domésticos, ...);
- a capacidade para a vida em comunidade (relacionamento com parentes,amigos e colegas, preparação de encontros e festas, recreação conjunta,trabalhos cooperativos, ...);
- a administração de tecnologias assistivas (uso dos talheres, de tesouras e agulha, do telefone, do gravador, do rádio, do computador, ...);
- administração de dispositivos ambientais (uso de ferramentas einstrumentos de ação sobre o ambiente, consertos básicos, ).
O desenvolvimento de um programa em Atividades de Vida Diária não significa a profissionalização da pessoa cega ou com baixa visão para o desempenho de uma determinada tarefa, pois a sua realização está muito mais relacionada ao saber como executar uma ação ou experiência do cotidiano do que ao seu conhecimento de um saber acadêmico. Com esta perspectiva, torna-se muitas vezes suficiente a transferência do conhecimento do grupo familiar, de amigos ou professores sobre um conteúdo a ser compartilhado com a pessoa com deficiência visual, tal como no caso de vestir-se,tomar banho, preparar um lanche rápido, arrumar a cama, acender o fogão,por exemplo. .
No entanto, há situações em que este saber fundamentalpode ser disponibilizado por um profissional especialista em uma determinada função como, por exemplo, um eletricista, um jardineiro, um encanador, uma costureira, um professor de Orientação e Mobilidade.Razões para a adoção e uso do programa de Atividades de Vida Diária .O ensino e a aprendizagem da maneira de realizar e resolver efetivamentetarefas rotineiras ou eventuais pela pessoa com deficiência visual trazem, não somente para si, efeitos benéficos que ultrapassam as fronteiras do presente e do físico, mas abarcam o futuro e suas (re)ações afetivas,emocionais, intelectuais e sociais. Entre tantas e tantas razões que justificam a existência e a aplicabilidade deste processo, é possível destacar como chaves motivadoras os seguintes pontos:
1. Aquisição da autonomia;
2. Desenvolvimento de habilidades e papéis sociais;
3. Mudança de hábitos e do próprio estilo de vida;
4. Busca da solução de problemas e de situações do cotidiano;
5. Veiculação e articulação dos conteúdos pedagógicos desenvolvidos naescola ou em outros ambientes acadêmicos, facilitando sua compreensão e assimilação;
6. Elevação da autoestima e redução do isolamento social;
7. Redução ou rompimento de mitos sobre a passividade e acomodação da pessoa cega ou com baixa visão;
8. Fortalecimento do sentimento de eficiência, eficácia e competência;
9. Estabelecimento de relacionamentos fundamentados na afetividade e não em situações de dependência ou conveniência e
10. Rompimento do fenômeno de escravização do outro social, tornando-sea satisfação de alguma necessidade da pessoa com deficiência visual uma opção e não uma imposição.
Deste modo, é de fácil compreensão que os conteúdos e informações desenvolvidas em Atividades de Vida Diária, de maneira (in)formal ou lúdica, podem trazer a todos profundas e diversificadas contribuições nos diferentes aspectos da constituição do ser como ser humano.
A atribuição ou não de importância para a participação neste programa e processo representa, entretanto, uma ação iniciada a partir da decisão tomada pelas pessoas envolvidas pelos efeitos e consequências dadeficiência visual e não tão-somente pela própria pessoa cega ou combaixa visão, quando esta vive e convive em um grupo.
Contudo, é sempre importante que esta decisão individual ou coletiva seja o resultado de umsentimento genuíno de emancipação e da vontade sincera de enfrentamento das dificuldades para o crescimento humano desde a infância até o término da velhice.
Disponível em:http://www.diversidadeemcena.net

Um comentário:

  1. oi Aninha. muito lindo e importante teu blog.
    vc sempre preocupada com as pessoas.
    pq não consigo ser tua amiga no orkut.
    isso me deixa muito triste.
    mas se vc quer assim. amém.
    um Natal repleto de Paz e Amor. pq sei que se tivermos esses dois os resto da pra correr atras.
    e nunca se esqueça vc é e sempre será minha amiguxa. t amo. bjs em todos.

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